14/02/2016

MUSGOS

Musgos
Teresa Macedo

Quando lemos Musgos de Teresa Macedo,
custa a acreditar ser o primeiro
livro de poesia desta autora.
Habitualmente, as primícias literárias revelam certas
fragilidades e pretensões, com a difícil busca por uma voz própria.
Porém, neste livro, não parece estarmos perante a juvenília da autora,
pois o leitor encontra já
uma voz poética desenvolvida e amadurecida, pressupondo
um convívio assíduo
com a escrita literária, mesmo que ainda.

(...)  estamos perante uma escrita com a
força e a autenticidade que decorrem de certas dominantes
ou obsessões temáticas:
I) natureza metapoética de vários textos ou passagens de escrita, desde os poemas
iniciais, visível até na escolha de certos títulos, quando medita na origem, essência
e função da palavra poética; II) o pendor dialógico desta escrita, entre o sujeito
poético e um Tu, ora presente, ora invocado e desejado (filho, pai, mãe, etc.);
III) valorização intensa e quase sinestésica dos vários sentidos; IV) interligadamente,
o destaque concedido a uma metafórica de lastro rural, resgatando imagens e
metáforas ancestrais, no seu halo de pureza campestre, envolta em certo bucólico
franciscanismo: terra, fragas, árvore, ventania, água, orvalho, fogo, semear,
campo, jardim, seiva, etc.; V) ênfase concedida a uma singular poética do espaço
e sobretudo da casa, enquanto imagem axial com suas variantes de magna mater
(berço, seio, regaço, ninho, casulo, descanso, repouso, colo, peito, abrigo) – “A
casa, a porta aberta entre flores / O amor sorrir, a fogueira acesa”; VI) configuração
de uma poética do corpo, valorizadora da forma de Eros e da sua força vital;
VII) especial atenção a uma tópica da viagem, através das metáforas recorrentes do
caminho, chão, viagem, passo, peregrino, mendigo, travessia, barco, voo, errância,
entre outras, em notação ora realista, ora onírica, insistindo-se na imagem do
caminho errante atravessado pelo homo viator; VIII) celebração da própria vida,
quer em colorações mais eufóricas (destaque para o simbolismo do vinho), quer
em tonalidades mais melancólicas, porque afinal de contas a geometria da dor pode
ser uma das mais fecundas escolas da vida.

José Cândido de Oliveira Martins


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