Aldeia enlutada
Fui. Sem dor. Sem riachos a semear
o rosto de pérolas transparentes.
Os sons dos passos. As vozes uníssonas,
tão cadentes e ligeiras como as folhas
ajoelhadas sobre o chão.
Ninguém me disse: vai. Ainda que dissesse
eu já lá tinha estado no lugar onde veio
silenciosa e forte, a morte. Agarra as almas
registadas nos calendários invisíveis
nas paredes do Destino.
Foi só a espera. E tudo se montou
como um cenário retilíneo e exato,
calcorreante por entre o vale escurecido
pela desistência dos braços e da fala
transformada em fúnebre ladainha.
Estava junto do pináculo sobranceiro
ao rio, indiferente à indagação da alma
que devorava questões, faminta de respostas,
sobre as membranas que separam
o tempo da carne, da eternidade eterna.
Estava no dorso de um anjo,
meu mestre, que ensina as linhas das profecias
escritas com sombras e a profusão da luz.
Estava porque já tinha estado
na aldeia enlutada, à tardinha, sobre um sonho.
Teresa Macedo
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