Apátrida
Queria
dizer bandeira, pátria, mas sinto-me
foragido
num qualquer lugar fora do berço,
onde não
descanso os braços na ausência
de uma
canção de embalar caída no chão,
ao
abandono no peito, zangado e só.
Como
tronco ressequido sobre o cume,
as minhas
raízes quedaram-se nos gestos
empedrados
do desalento profundo,
estagnaram
sobre as telhas das manhãs
nascidas
para nada acontecer.
Não há
poema que seja símbolo ou flor
que seja
dádiva. Estou só, porque quero
sentir os
vendavais tardios e imprevistos,
manifestar-se
nos flancos da terra árida
com sons
primordiais de esperança e medo.
Pertenço
aos que gritam no deserto
em busca
de um fragmento novo, duma pinga
de água a
abrir carreiros sobre os catos,
resistentes
aos temporais de areias
e às
miragens dos horizontes belos.
Há-de
nascer o dia dos oásis serpenteados
de água
fresca e brilho das palmeiras
verticais
ao céu. Vai ser o dia de erguer
o
estandarte guardado em mim. Canção
com
pétalas vermelhas e sabor a abril.
ADELAIDE CARVALHO * |
(*POETA VIMARANENSE, SÉC.XXI)
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